terça-feira, 21 de maio de 2013

A Decisão de Angelina Jolie


A atriz Angelina Jolie declarou que passou por uma dupla mastectomia preventiva, uma cirurgia para retirada dos seios. A revelação foi feita em um artigo chamado My Medical Choice, publicado no jornal americano The New York Times no dia 14/05/2013. "Minha mãe lutou contra o câncer por quase uma década e morreu aos 56", diz a atriz no começo do texto. "Ela viveu o suficiente para conhecer seus primeiros netos e segurá-los nos braços. Mas minhas outras crianças nunca terão a chance de conhecê-la e sentir quão amável e graciosa ela era", afirma. Angelina, de 37 anos, diz que descobriu ter um defeito no gene chamado BRCA1. Os médicos disseram que ela tinha 87% de chances de desenvolver um câncer de mama, e 50% de ter um câncer no ovário. O processo médico foi iniciado no último dia 2 de fevereiro com a técnica nipple delay, um tipo de cirurgia plástica "para que a mastectomia não danifique esteticamente o mamilo. Isto causa um pouco de dor e um montão de hematomas, embora aumente as chances de salvar o mamilo". Ela conta que duas semanas após o começo do processo, fez a principal cirurgia, na qual se extrai o tecido mamário. "A operação pode levar 8 horas. Você acorda com tubos e expansores nos seus seios. Parece uma cena de um filme de ficção científica. Mas dias depois da cirurgia você pode voltar à sua vida normal", afirma. Nove semanas depois foi feita a operação para reconstrução das mamas com implantes. Ela também espera que seu caso sirva de exemplo para outras mulheres com risco de câncer. A atriz lembra em seu artigo que o câncer de mama mata 458 mil pessoas por ano, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. "Se escrevo agora sobre isto é porque espero que outras mulheres poderão beneficiar-se de minha experiência", afirmou. "Decidi não manter minha história em segredo porque há muitas mulheres que não sabem que poderiam estar vivendo sob a sombra do câncer. Tenho a esperança que elas, também, sejam capazes de realizar exames genéticos e que, se tiverem um alto risco, saibam que há mais opções." Abaixo um vídeo e uma imagem sobre a mastectomia preventiva:




A decisão de Angelina Jolie tem feito muita gente refletir. Considerando que o câncer de mama é o tipo de tumor mais comum nas mulheres brasileiras - mais de 50 mil casos são diagnosticados todo ano, dá para concluir que é alto o número de pessoas com casos na família que, com a repercussão do caso, estão pensando se não seria o caso de fazer um teste também. Não faltam elogios à atitude da atriz, além de críticas sobre o alto preço dos testes genéticos, que no Brasil podem chegar a R$ 9.000. Mas a questão é: toda mulher com casos de câncer na família precisa deles? Os médicos, aqui e especialmente nos EUA, têm feito um esforço enorme na mídia para convencer as pessoas de que não. Em primeiro lugar, é preciso considerar que a mutação no gene BRCA1, referida pela atriz, ocorre em cerca de 0,1% da população. Ou seja, o exame é desnecessário para a maioria das pessoas. E apenas 10% dos casos de câncer de mama são hereditários. De acordo com os médicos, existem critérios bem estabelecidos para a realização de testes genéticos. São eles: (1) dois ou mais parentes de primeiro grau ou de segundo grau (neta, avó, tia, sobrinha, meio-irmão) com câncer de mama e/ou de ovário; (2) câncer de mama antes dos 50 anos (pré-menopausa) em um parente de primeiro grau; (3) um ou mais parentes com dois tumores (de mama e de ovário ou dois tumores mamários independentes); (4) parentes do sexo masculino com câncer de mama. Todos esses critérios são definidos a partir de estudos científicos. Uma pessoa pode não ter indicação para o exame, mas ter a mutação e se beneficiar de um procedimento preventivo, como o que Jolie fez? Sim, isso pode acontecer. Mas também é possível que alguém descubra mutações, entre em um estado de ansiedade terrível e nunca venha a ter a doença.

O "efeito Angelina Jolie"

O chamado "efeito Angelina Jolie" já pode ser percebido em laboratórios que oferecem testes genéticos no país. É o caso da Diagnósticos Laboratoriais Especializados (DLE), que oferece o exame para detectar mutações associadas ao câncer de mama e de ovário com a possibilidade de coleta em casa e sem necessidade de pedido médico, algo comum nos EUA, mas que ainda é incipiente no Brasil. "Nos últimos dias já deu para notar o aumento da procura, de gente ligando para buscar informações sobre o exame", conta o geneticista Cláudio Schmidt, do DLE. O laboratório frisa, no entanto, que é importante consultar um médico antes e depois de fazer os testes. O laboratório também pede a indicação de um médico de referência que é contatado caso o teste dê algum resultado preocupante. No caso do exame para avaliar a propensão ao câncer, a análise é feita a partir da saliva - a pessoa esfrega uma espécie de cotonete na parte interna da bochecha e na parte inferior da gengiva, e depois guarda o coletor no vidro. O kit é enviado pelo correio para o cliente, que faz a coleta em casa e envia, também pelo correio, ao laboratório. O resultado fica pronto em 30 dias úteis. O preço é R$ 5.800,00. Para Salmo Raskin, não se pode realizar testes complexos como o de propensão ao câncer sem que haja um aconselhamento genético. Na sua clínica, ele diz ainda não ter sentido o "efeito Angelina Jolie". Mas acredita que a procura ainda vai aumentar, ainda que lá o teste não seja oferecido sem solicitação médica. Na opinião dele, os próprios médicos deverão fazer mais encaminhamentos, ainda que os critérios para a indicação do exame continuem os mesmos.

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